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Velho Airão: A Cidade Fantasma da Amazônia

Velho Airão: A Cidade Fantasma da Amazônia / Foto : Divulgação

Velho Airão, ou Airão Velho como é chamado pelos moradores de Novo Airão, é um fascinante povoado quase desabitado no estado do Amazonas, Brasil. Essa localidade guarda uma rica história e atrai curiosos e aventureiros que desejam explorar as ruínas da que foi a primeira povoação às margens do rio Negro, datando de 1694.

Mais antiga do que a própria primeira capital do Amazonas, Velho Airão foi, em tempos passados, um centro de média importância e a antiga sede do município de Novo Airão. Hoje, o local está situado dentro do Mosaico do Baixo Rio Negro, no Parque Estadual Rio Negro Setor Norte.

Um Passado Glorioso e o Ciclo da Borracha

Durante séculos, Velho Airão desempenhou um papel fundamental na história econômica e social do Amazonas. Na época dos colonizadores portugueses e até a Segunda Guerra Mundial, a vila prosperou como um centro para a produção de borracha, essencial para a indústria de pneus e materiais cirúrgicos. Airão concentrava a coleta de látex de regiões do alto Rio Negro, Rio Jaú, seus afluentes e do Rio Branco, recebendo também produções vindas de vilarejos próximos a Boa Vista, Roraima.

Com o término da guerra, entretanto, os ingleses passaram a comprar borracha de sua colônia na Malásia. Essa mudança repentina impactou profundamente os seringalistas amazonenses, que não estavam preparados para competir no mercado global. Como Airão era um importante ponto de distribuição, o declínio do Ciclo da Borracha levou à falência da vila, culminando em seu abandono progressivo. Por volta de 1950, a cidade foi oficialmente desocupada, e o último morador deixou o local em 1985.

Velho Airão: A Cidade Fantasma da Amazônia / Foto : Divulgação
Velho Airão: A Cidade Fantasma da Amazônia / Foto : Divulgação

O Mito das Formigas e o Abandono

Entre as histórias que cercam o abandono de Velho Airão, destaca-se a lenda das formigas. Dizem que um político da época afirmou que os moradores estavam sendo devorados por formigas, o que teria levado à decisão de transferir a sede do município para Itapeaçu, atualmente conhecido como Novo Airão. Verdade ou não, a migração da população foi acelerada, resultando no esvaziamento completo da cidade.

Velho Airão: A Cidade Fantasma da Amazônia / Foto : Divulgação
Velho Airão: A Cidade Fantasma da Amazônia / Foto : Divulgação

As Ruínas de Velho Airão

Hoje, as ruínas de Velho Airão são um testemunho silencioso de sua história. Prédios antigos, ruas tomadas pela vegetação e vestígios de uma época de grande atividade econômica atraem turistas e pesquisadores interessados em desvendar seus segredos. De acordo com o historiador Victor Leonardi, o rápido crescimento econômico entre 1880 e 1914, gerado pelos seringais, foi seguido por um processo de “arruinamento definitivo” após o colapso do Ciclo da Borracha.

A partir de 1985, a Marinha do Brasil utilizou o local como área de treinamento para exercícios de tiro. Esse uso continuou até 2005, quando Velho Airão foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Em 2010, técnicos do instituto iniciaram o levantamento de dados para preservar e compreender melhor a história da região.

Ruínas de Velho Airão (Foto: Palê Zuppani )
Ruínas de Velho Airão (Foto: Palê Zuppani )

Um Novo Capítulo: O Retorno de Moradores

Apesar de seu abandono, Velho Airão nunca perdeu completamente sua conexão com o passado.

A partir de 1985, a Marinha do Brasil começou a usar a cidade como alvo para treino de tiros de seus navios até 2005, quando a cidade foi tombada.

Em 1960, um japonês, chamado Shigeru Nakayama, torna-se guardião da cidade, à pedido de um dos últimos membros da família lusitana Bizerra, que anteriormente era responsável pela administração de Velho Airão. Ele chegou à Amazônia no começo dos anos 1970, mas em Velho Airão, apenas em 2001. Desde então, ele se tornou o único homem a viver na cidade abandonada.

Desde 2005, cerca de sete famílias retornaram ao local, construindo casas ao redor das ruínas. Esses moradores desempenham um papel crucial ao receber visitantes e guiar turistas pelos resquícios da vila, compartilhando histórias e curiosidades sobre a época em que a cidade estava em seu auge.

Shigeru Nakayama, torna-se guardião da cidade (Foto: Divulgação)
Shigeru Nakayama, torna-se guardião da cidade (Foto: Divulgação)

Um Tesouro Cultural e Turístico

Velho Airão está localizado a cerca de 250 quilômetros a noroeste de Manaus, às margens do rio Negro. Embora seja uma cidade fantasma, ela está longe de ser esquecida. Hoje, Velho Airão é um ponto de interesse para quem busca compreender melhor a história do Amazonas, o impacto do Ciclo da Borracha e a força da natureza sobre os vestígios humanos.

Com suas ruínas misteriosas e lendas intrigantes, Velho Airão oferece uma experiência única que conecta passado e presente. É um lembrete de como as mudanças econômicas globais podem transformar regiões inteiras e um convite para refletir sobre a resiliência da Amazônia e seu povo.

Velho Airão: A Cidade Fantasma da Amazônia / Foto : Divulgação
Velho Airão: A Cidade Fantasma da Amazônia / Foto : Divulgação

Marcus Pessoa

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Sou apaixonado pela história do Amazonas e decidi criar o portal "No Amazonas é Assim" e agora o blog "No Amazonas Era Assim" para resgatar memórias e histórias curiosas de Manaus e do estado, conectando gerações e valorizando a rica cultura regional.

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