O Bombardeio de Manaus em 1910: Um capítulo marcante na história da cidade

Pouco conhecido pela maioria, o bombardeio de Manaus de 1910 é um dos episódios mais intrigantes e trágicos da história da cidade. Em 8 de outubro daquele ano, um conflito armado abalou a capital amazonense, como resultado de um golpe político marcado por falsificação e traição, envolvendo figuras influentes do cenário local e nacional.
O Contexto Político
Tudo começou em 7 de outubro de 1910, quando Manaus estava em festa para receber o deputado Monteiro de Souza. Uma grande recepção foi organizada, atraindo 12 dos 19 deputados estaduais para o evento. A ausência da maioria dos parlamentares impossibilitaria a Assembleia Legislativa de deliberar qualquer matéria por falta de quórum. No entanto, esse detalhe foi contornado de maneira ardilosa.
Aproveitando-se da situação, o vice-governador Antônio Gonçalves Pereira de Sá Peixoto articulou o impedimento do então governador, coronel Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt. Para isso, usou violência e falsificação de assinaturas em uma ata que supostamente representava a decisão do Congresso Estadual. O documento fraudulento foi enviado às autoridades federais, garantindo o apoio das tropas do 46º Batalhão e da Flotilha de Guerra para depor o governador.

A Reação de Bittencourt
Ao tomar conhecimento da conspiração, Bittencourt notificou o presidente da República, Nilo Peçanha, relatando a situação. Ele organizou a defesa da cidade com o apoio da Polícia Militar, preparando-se para resistir ao golpe.
No amanhecer de 8 de outubro, às 5h30, as hostilidades começaram. Tropas federais subiram as ruas Bernardo Ramos e Municipal (hoje Rua 7 de Setembro) em direção ao Palácio do Governo, onde enfrentaram a guarda militar. Os combates foram intensos, mas os defensores do governo conseguiram repelir os ataques iniciais.

A Intensificação do Conflito
Com a escalada da violência, ambos os lados buscaram mobilizar a população. Folhetos foram distribuídos, convocando os manauaras a pegar em armas. Enquanto isso, o Palácio do Governo tornou-se o epicentro dos combates, que se estenderam ao longo do dia.
O bairro dos Remédios foi uma das áreas mais afetadas pelos bombardeios, sofrendo graves danos materiais. Civis e militares foram mortos no confronto, sendo a maioria dos ébados do 46º Batalhão. A Polícia Militar também perdeu dois praças durante os combates.

A Renúncia de Bittencourt
Finalmente, às 17h, o governador Bittencourt foi convencido pelos cônsules da Alemanha, Inglaterra, Portugal, França, Itália e Paraguai a renunciar ao cargo, na tentativa de evitar mais destruição e perdas humanas. Após a renúncia, ele buscou refúgio no consulado argentino e, no dia 10 de outubro, seguiu para Belém.
Apesar do exílio temporário, Bittencourt não permaneceu afastado por muito tempo. No dia 31 de outubro, ele foi reempossado como governador do Amazonas.
As Consequências
Após o retorno de Bittencourt ao poder, uma investigação foi aberta para apurar os acontecimentos que levaram ao golpe e ao bombardeio. Descobriu-se que a conspiração havia sido articulada pelo vice-governador Sá Peixoto em colaboração com figuras influentes como Silvério Nery, Porfírio Nogueira e outros seis deputados estaduais. Eles tinham o apoio de facções familiares e político-militares alinhadas ao marechal Hermes da Fonseca e ao senador gaúcho Pinheiro Machado.

O episódio deixou marcas profundas em Manaus, tanto em termos materiais quanto emocionais. Prédios como o Palácio do Governo e o Bazar Amazonense, localizados na Rua dos Barés, testemunharam a violência daquele dia e ainda hoje são lembranças físicas de um período conturbado.

Reflexões Históricas
O bombardeio de Manaus é um exemplo claro de como disputas políticas podem levar a situações extremas, com consequências graves para a população civil. O evento também destaca a importância de uma liderança responsável e de instituições democráticas fortes para evitar que crises semelhantes voltem a ocorrer.
Hoje, mais de um século depois, a história do bombardeio serve como um lembrete de um capítulo turbulento na história do Amazonas, que merece ser lembrado e estudado pelas novas gerações. A preservação da memória histórica é fundamental para compreender os desafios do passado e construir um futuro mais justo e pacífico.
