Os Armazéns Andresen: Um capítulo da história comercial de Manaus

A história de Manaus e sua relação com o comércio não pode ser contada sem mencionar os Armazéns Andresen, um dos mais importantes empreendimentos comerciais do Norte do Brasil no final do século XIX e início do século XX. Com uma origem ligada a uma influente família de armadores da Europa, os Andresen fincaram suas raízes na cidade portuguesa do Porto, de onde expandiram seus negócios para a Amazônia.
A expansão comercial da família começou com a aquisição, em 1893, do vapor “Royuma”, construído em 1887 na Inglaterra e posteriormente rebatizado de “Manaos”. Esse navio operava regularmente entre o Rio Douro, em Portugal, e o Rio Amazonas, trazendo milhares de portugueses para a região. Infelizmente, sua última viagem ocorreu em 1º de fevereiro de 1910, quando ficou encalhado na Praia de Caruarú, próximo a Coari, após colidir com um tronco submerso, causando um rombo irreparável no porão da proa. Os tripulantes e passageiros conseguiram seguir viagem a bordo do vapor “Perseverança”.

A importância dos Andresen no cenário comercial de Manaus também pode ser verificada na documentação histórica. O livro “Impressões do Brazil no Século Vinte”, publicado em 1913 pela Lloyd’s Greater Britain Publishing Company, registra a relevância dos Armazéns Andresen, destacando sua fundação em 1883 pela firma J. H. Andresen, do Porto. O empreendimento não apenas funcionava como uma casa importadora e exportadora, mas também atuava no setor bancário, aviador, comissário e armador. Com um capital realizado de Rs. 2.500:000$000, os Armazéns Andresen realizavam transações comerciais de grande vulto com diversas praças da América do Sul, Europa e América do Norte.
A estrutura dos Armazéns Andresen era impressionante para a época. Seu prédio principal, onde funcionavam os escritórios, ocupava uma grande área nas ruas Marcílio Dias, Guilherme Moreira e na Praça Tamandaré. Além disso, a firma possuía diversos anexos espalhados pela cidade e uma frota regular composta por vapores como Cabral, Andresen, Arinos e Manáuense, além dos rebocadores Miramar e Galgo. Esses navios, projetados especificamente para a navegação nos rios amazônicos, garantiam a conexão comercial da empresa com pontos estratégicos do interior, como os rios Juruá, Madeira, Purus e Solimões.

Na época, o presidente da empresa era Joaquim Rodrigues da Silva Dias, um homem com ampla experiência comercial e bem relacionado no comércio local. Sob sua liderança, os Armazéns Andresen prosperaram e ajudaram a consolidar Manaus como um dos principais centros comerciais do país.

No entanto, como muitas outras empresas envolvidas na comercialização da borracha, os Armazéns Andresen não resistiram à crise do setor. Entre 1911 e 1920, o colapso da economia da borracha levou ao fechamento de diversas firmas, incluindo os Armazéns Andresen. Mesmo após o encerramento das atividades, o prédio dos armazéns permaneceu de pé, embora atualmente esteja em estado de abandono.

A história dos Armazéns Andresen é uma representação fiel do dinamismo comercial que caracterizou Manaus durante o Ciclo da Borracha. O legado dessa empresa, mesmo com seus prédios descaracterizados ao longo dos anos, permanece na memória da cidade. Ainda hoje, sua antiga fachada, situada na esquina da Theodureto Souto com a Marcílio Dias, resiste ao tempo, como um vestígio da grandeza econômica do passado.

O que resta dos Armazéns Andresen não é apenas um prédio, mas um fragmento da história de Manaus e de sua conexão com os portugueses que ajudaram a construir a economia local. Que essa memória nunca seja esquecida e que sua história continue sendo compartilhada pelas futuras gerações.