O Bombardeio que Manaus sofreu em 1910

Em 8 de outubro de 1910, Manaus viveu um dos episódios mais violentos de sua história, conhecido como o Bombardeio de Manaus. Para compreender este evento, é importante analisar o contexto político da época. Durante a República Velha (1889-1930), o Brasil era marcado por disputas políticas intensas e frequentes atos de violência. Essas disputas geralmente envolviam os coronéis, que utilizavam favores ou ameaças para controlar grandes currais eleitorais. Além disso, acusações forjadas e fraudes eleitorais eram comuns, beneficiando certos grupos políticos em detrimento de outros.
Após a morte do governador Eduardo Gonçalves Ribeiro, em 1900, o Amazonas passou a ser governado por grupos oligárquicos que não tinham compromisso com os interesses da população. Esse cenário político instável levou ao clímax das tensões em 1910, com o bombardeio naval que atingiu a cidade de Manaus.
O Contexto Político e o Estopim do Bombardeio
Na manhã de 8 de outubro de 1910, a cidade foi alvo de um violento bombardeio ordenado pelo comandante da flotilha da Marinha de Guerra. Essa ação militar foi realizada em apoio ao vice-governador Antônio Gonçalves Sá Peixoto, ligado ao grupo político liderado por Pinheiro Machado, uma influente figura política da República Velha.

O motivo oficial do ataque foi a resistência do governador Antônio Ribeiro Bittencourt à decisão do Congresso estadual de cassar seu mandato. As acusações contra ele incluíam descumprimento de leis, má gestão financeira e outras irregularidades administrativas que desagradavam seus opositores.

Porém, como destaca o historiador Aguinaldo Nascimento Figueiredo, as verdadeiras motivações do conflito eram de natureza pessoal e política. O objetivo principal era demonstrar lealdade e serviço aos líderes “coronéis” que dominavam a cena política da época. Esses líderes eram conhecidos por sua influência local e nacional, mantendo suas redes de poder por meio de alianças e demonstrações de força.
O Ataque e suas Consequências
O bombardeio destruiu vários prédios no centro de Manaus, incluindo o Palácio do Governo, que foi invadido após a ofensiva. O caos se instalou na cidade, com intensos tiroteios e confusão generalizada. Sob pressão dos revoltosos e sem o apoio imediato de seus aliados, o governador Antônio Bittencourt foi obrigado a renunciar ao cargo.
Apesar de afastado, Bittencourt continuou articulando sua volta ao poder. Ele obteve o apoio do presidente Nilo Peçanha e contou com reforços militares enviados pelo governo do estado do Pará. Pouco tempo depois, conseguiu retornar triunfantemente ao cargo de governador. No entanto, sua permanência no poder foi breve, pois ele acabou sendo deposto novamente em 1912.

Uma Cidade em Ruínas
As consequências do bombardeio foram devastadoras para Manaus. Além da destruição material, o evento deixou marcas profundas na sociedade local. Prédios históricos, como o Palácio do Governo e o Bazar Amazonense, ficaram em ruínas. A casa do Dr. Simplício, situada na Praça dos Remédios, também foi gravemente danificada. A população, já fragilizada pelas disputas políticas, enfrentou dias de incerteza e medo.
O artista Paulus Caesar, em suas obras, retratou os principais pontos atingidos pelo bombardeio, oferecendo uma visão histórica e artística desse momento traumático. Essas representações ajudam a preservar a memória do episódio, que é pouco conhecido fora da região amazônica.

O Bombardeio de Manaus é um exemplo claro de como as disputas políticas podem levar a atos extremos, afetando diretamente a população e a infraestrutura de uma cidade. Embora as justificativas oficiais para o ataque estivessem relacionadas a questões administrativas e financeiras, fica evidente que as motivações reais eram muito mais ligadas ao personalismo e à luta pelo poder.

Esse evento também ilustra a fragilidade das instituições democráticas no Brasil da República Velha, onde os interesses de grupos oligárquicos frequentemente prevaleciam sobre o bem-estar coletivo. A história do bombardeio deve servir como um alerta para os riscos da polarização política e da concentração de poder em poucas mãos.

Um comentarista do WordPress
19 de dezembro de 2024Oi, isto é um comentário.
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